Andar nos transportes públicos é difícil. Não porque há poucos, ou porque esperamos muito tempo por eles. É porque vêm com pessoas lá dentro. Formam-se grupos de amigos nos transportes e depois falam muito e alto entre eles. Falar não tem mal, o que é realmente mau é o tema de conversa. Invariavelmente: doenças! Não há volta a dar. Já fiz não-sei-quantas licenciaturas só de ouvir! É que são anos nisto... De manhã é pior. Ainda me surpreendo como é que as pessoas falam tanto tão cedo e sempre o mesmo tema! De tarde, talvez pelo cansaço, já não voltam faladoras. Voltam irascíveis. Discutem por tudo e por nada. Se preciso for discutem com quem iam a conversar de manhã. Gosto de andar de transportes porque aproveito o tempo para ler mas assim não há clima! Já não há paciência!
Já tentei vir de carro. É igualmente mau! Já não venho e vou a ouvir as pessoas, ouço as buzinas de quem tem pressa, ou seja, de quase todos os que conduzem. distraímo-nos, não avançamos no segundo imediatamente anterior à passagem do sinal de vermelho para verde e, buzina! Se ousamos ir um pedacito mais devagar, quando nos ultrapassam, olham para nós como se fossemos uns alienígenas, como se tivéssemos feito um disparate desmedido! Gosto de andar de carro porque posso vir a ouvir a minha música, mas assim também não há clima. Também já não há paciência!
Já pensei em propor teletrabalho ao meu chefe para me poupar. Mas depois pensei que preciso de contactar com pessoas. Quando chego ao trabalho lembro-me que afinal não preciso nada de contactar com pessoas. Que estava bem era a trabalhar em casa. Produzia mais.
"(...)Esta insatisfação
Não consigo compreender
Sempre esta sensação
Que estou a perder
Tenho pressa de sair
Quero sentir ao chegar
Vontade de partir
P'ra outro lugar
Vou continuar a procurar
A minha forma
O meu lugar
Porque até aqui eu só:
Estou bem aonde eu não estou
Porque eu só quero ir Aonde eu não vou(...)"
(música de António Variações, "Estou Além")
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